quarta-feira, 21 de maio de 2008

Os dois paradoxos dos lados distintos da Cruz


Da essência da dor se encontra o amor. Esse é o grande mistério que por longos tempos a humanidade tem confrontado na busca constante à felicidade. Alguns pensamentos religiosos e culturais olham para a dor e conseguem perceber nela o caminho necessário para o amor, ou ainda há quem a olham como o oposto do amor. Mas os extremos estão sempre próximos de certa forma. Mesmo que sua proximidade seja pelo contrario das idéias que possamos ter.
No cristianismo encontramos o seu próprio Deus provando da realidade da dor humana para desvendar em maneira pratica o que é o amor. A Cruz. E na Cruz grita toda a profundidade da pedagogia do amar que Cristo usou em seus ensinamentos e concretizou morrendo em silêncio, mesmo inocente.
A Cruz com dois lados, o amargo que cura, o sangue que refresca a dor que educa e a força persistente que conquista tudo. Ou seja, por mais belo e feliz que seja o caminho do amar nele temos dificuldades, dores, decepções, precisamos calar ou quem sabe suportar o que nunca pensamos em suportaríamos. O amor como “mar de rosas”. Tendo o perfume da roseira sem evitá-lo pelo fato de poder se espinhar nos espinhos nela contido.
É um desafio estreito a vida vivenciada no amor. Porém para compreendermos melhor o que é “dois lados da Cruz” é preciso que saibamos o que é o amor... Não quero dar conceitos de amor, primeiro por ser uma verdade muito ampla, e um território muito bem explorado.
Continuando o raciocínio do ensinamento cristão de amor, entramos na esfera da entrega gratuita e sem limites ao próximo. O amor, apesar de ser compreendido de diversas formas sempre será entendido na linda do desejo e trabalho do bem e da felicidade entre os homens.
A primeira vista ver amor na cruz é contraditório, afinal o fruto do amor é a alegria. Então por que a dor? Por que o sacrifício? Lembro uma bela frase de Fr. Luiz Faccenda que nunca saiu da minha limitada memória, que diz: “quem escolhe por amar deve está disposto a sofrer, já que a dor acompanha o amor assim como o calor segue o fogo.” E ainda em outro momento diz que “sem amor não se vive, e sem dor não se ama.”
O fogo sem calor não teria a mesma utilidade. O amor sem a dor também... É o calor do fogo que faz com que a prata e o ouro sejam derretidos e passem por um processo, a fim de chegarem ao estado de metais purificados. É mesmo assim com o nosso viver, aprendemos com toda a dor que passamos. Somos realmente amados e amantes uns dos outros quando usamos bem os dois lados da Cruz. Quando a vida lhe convida a felicidade de vivencia o amor pode ter certeza que traz contigo a Cruz precisa para isso. Não o negue por medo de sofrer, não o renegue por cansaço do peso da Cruz, mas diga sempre sim ao amor, independente dos desafios que ele traga. Penso que não é a ligação ao “masoquismo” e nem uma doentia aceitação da dor, ao contrario nunca aceite a dor. Encontre o aprendizado que ela pode te trazer, supere-a e desfrute da alegria que ela carrega em si. O amor ao sofrimento aqui é a sabedoria de ver o belo onde os descrentes só percebem a infelicidade. Afinal o que prevalece é o bem e a alegria, a paz que existe na realização do amor é o que vence sempre. Pode ter certeza.
Agora, se o que você acreditava ser amor só lhe traz sofrimentos, angustia, decepção, abandono e outros tantos aspectos negativos, fuja dele. O amor enraizado no infeliz é sem duvida o pseudo-amor.
O fruto do amor é sempre doce como o mel, apesar de muito ser encontrado entre o fel. O amor verdadeiro corresponde em harmonia.
Quando legitimamente puro você sente sem dificuldade o que é “amar e ser amado(a)”. Se sente amado não por que escutou uma declaração, mas por que o seu amado ou amada se declara nos seus atos e atitudes, por entregar que lhe ama quando te olha.
Afonso de Ligório meditando a Cruz e nela o Cristo Jesus que morreu como um cordeiro no matadouro, diz: “Deus enlouqueceu de amor...” Esbarramos no aspecto de loucura que é o amor. Loucos são todos aqueles que contradizem as regras formais do que é dito normal. Logo compreendemos que o amor nos faz loucos, nos encoraja e nos faz sonhar com fatos ditos irracionais, como deixar tudo para estar do lado da pessoa amada. Ou do sonho amado. Já escutei dizer de pessoas que abandonam possibilidades grandes de um futuro profissional para estar junto de quem amam. O mundo capitalista vê isso como loucura, mas o amor percebe a veracidade de sua característica de “querer e trabalhar pelo bem de sua vitima amada.” Não que seja fácil ser louco, ao contrario. Entendendo por existi o leito da dor e do sacrifício para quem quer viver o amor é que aceitamos desafios “loucamente entendidos.”

Por fim quero persistir no que dizia o grande Afonso de Ligório sobre o amor. “Amor exigi união...” Para os amados estarem juntos as vezes precisam enfrentar a guerra, a família, a sociedade, o preconceito, a distancia e tantas outras realidades que fazem o amor aceitar mais uma vez que é preciso conviver com as dores convidativas ao crescimento constante da escola da vida.
O amor verdadeiro sente necessidade um do outro, a saudade os impele ao reencontro e a união plena do sentido e dos sonhos, todo amor que forje a isso certamente não é amor. E se o amor ao te chamar lhe deu uma Cruz, perceba as duas profundidades dela, e ainda, não deixe de se arriscar por medo do lado doloroso que existe, ao contrario diga sim. Aprenda com a Cruz divina do cristianismo a viver o que é o real e gratuito no amor humano.
Somos humanos íntegros, felizes e verdadeiros somente quando fazemos a experiência do amor. Continuemos a batalha. Lutemos e conquistaremos. O amor é a nossa meta, e o dor o caminho mais certo para nele chegarmos felizes. Vamos comigo nesta. Homens e mulheres conscientes da sua missão de amar. Responsáveis pela eternizarão e reinado do amor na humanidade.